Em torno das origens de Silgueiros
António João Cruz
Alberto Metelo Coimbra
Lourenço José Marques Lopes
Silgueiros é uma populosa freguesia do concelho de Viseu, onde mais de 4
mil habitantes se espalham por diversos povoados.
Recuam fundo as suas origens. São impossíveis de
determinar...
Mas monumentos e materiais que têm aparecido à
superfície provam-nos a ocupação deste
território em diferentes épocas a que a
tradição popular invariavelmente chama de «tempos
dos mouros».
Condicionantes vários apenas têm permitido remontar o
seu estudo, nas terras beiroas, à época
megalítica: tempos de monumentos de grandes pedras,
construídos por populações onde a caça e
a agricultura de grande produção cerealífera
constituíam as principais bases da economia.
A nós chegaram os seus testemunhos em Outubro de 1973,
quando, próximo de Loureiro, se procedia ao arroteamento de um
terreno para plantio de vinha, no sítio de Cabecinho da Orca.
Apareceram, então grandes lajes de um dólmen. Junto,
três dormentes de trituradores neolíticos moinhos
de tosca feição.
Evolucionaram estas populações dolménicas
para a utilização dos metais, primeiro o cobre, logo
depois o bronze e o ferro. Terra de vales, não fixaram aqui
estes metalurgistas grandes povoações tão
características de cultura castreja, cingida ao Noroeste da
Península.
Quedaram-se pelas baixas alturas, no cultivo e amanho dos
férteis terrenos.
Mais abundantes são os vestígios da
ocupação romana.
Pretendem alguns que por aqui passava a via romana que,
saída de Viseu para o Sul, seguia por Cabanões, Teivas,
Rebordinho, Oliveira de Barreiros, Silgueiros, Sangemil e, daqui,
para Tábua, atravessando a via romana Foz-Dão à
fronteira.
Hoje
encontram se ainda abundantes vestígios de antigos casais
romanos: as lagaretas lagares cavados no granito «dente
de cavalo» da região de Loureiro
de Cima, de Moitedo, de Barrabás e, mais a Este, da Pinouca; em Pindelo,
cerâmica diversa e pedras várias com a
característica almofada romana.
Associados
às lagaretas, mas de cronologia incerta, andam, geralmente, as
sepulturas escavadas em rocha: antropomórficas, popularmente
designadas por «camas dos mouros», ou não.
Aqui encontram-se duas entre Falorca e
Loureiro de Cima, uma e começo (?) de outra em Campas e uma no Moitedo, próximo da
lagareta, em Passos.
***
São estes os testemunhos de um passado, ainda não
totalmente conhecido, que urge defender e preservar: defender dos
«caçadores de tesouros» que, após a sua
vandálica destruição, mais não encontram
do que alguns cacos espalhados pela terra que as cobria; preservar
para que todos possamos observar as nossas origens.
Referência bibliográfica:
António João Cruz, Alberto Metelo Coimbra, Lourenço José Marques Lopes, «Em
torno das origens de Silgueiros», Rancho
Folclórico de Passos de Silgueiros, Viseu, 1980.
Artigo em formato pdf
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