Apontamentos para a
história de Viseu

Existe a arqueologia em Viseu?
(A arqueologia e a informação)

António João Cruz

«Um trabalho científico em arqueologia só está terminado quando pode ser apresentado a um público que não seja apenas composto pelo círculo fechado de especialistas».

Estas palavras de Carl-Axel Moberg parecem dizer o óbvio. Mas há que dizer, também, o óbvio. E, além disso, há que observar como se faz (quando se faz) a passagem das palavras aos actos.

Nesta cidade, a tantos títulos arqueológica, ou ainda não se terminou o que parecia já estar terminado, ou estas palavras ainda não têm assentimento.

Quando José Coelho se encontrava no auge da sua actividade, rara era a semana em que, através dos jornais da cidade, não comunicava aos seus concidadãos as suas descobertas arqueológicas. Tentava partilhar conhecimentos, o prazer do conhecimento e da descoberta, tentava que todos os cidadãos ilustrados sentissem como seu o património que ele trazia à luz do dia, explicava-se quando em conflitos se envolvia, para que os outros pudessem compreender o que na cidade se passava. Fazia isso, então, nos anos 20, 30 e 40. Mas, logo no início da sua carreira, quando escavara o «Mamaltar do Vale de Fachas», cursava ainda a Universidade, escrevera uma carta-aberta ao «Povo de Travassós».

Hoje, quando a arqueologia já não é o objecto (ou já o não devia ser), esse canal de comunicação talvez já não seja o mais adequado a essa conversa interrompida. Ou, talvez contenha ainda algumas virtualidades, mas outros meios de comunicação possam também ser mobilizados.

Porém quem toma público resultados alcançados nas escavações que nos últimos anos se têm feito na cidade ou ao redor? Ou será que nada se alcançou? Será que não há arqueologia em Viseu?

Fala-se tanto em destruição e conservação do Património. Porém como querem que as pessoas respeitem o que não conhecem, aquilo a que não atribuem valor, o que para elas são memórias de um passado de que se querem libertar?

A protecção do património passa por aqui: ela não pode ser feita se não houver essa informação.

É urgente que essa ruptura instalada em Viseu seja ultrapassada. Espera-se que a recente criação do Gabinete de História e Arqueologia, na dependência da Câmara, contribua para modificar essa situação.

 

Referência bibliográfica:

António João Cruz, «Existe a arqueologia em Viseu? (A arqueologia e a informação)», Notícias de Viseu, 737, 30-11-1988, p. 2.

Artigo em formato pdf (versão publicada)

Artigo revisto de acordo com o original dactilografado.