Apontamentos para a
história de Viseu

Subsídios para o levantamento arqueológico do concelho de Viseu. Freguesias de S. João de Lourosa e Silgueiros

António João Cruz
Alberto Metelo Coimbra
Lourenço José Marques Lopes

Constitui o presente texto o relatório de um levantamento arqueológico efectuado, durante 5 dias, nas freguesias de S. João de Lourosa e Silgueiros, ambas do concelho de Viseu, pelos três autores, membros do Centro Juvenil de Arqueologia e Etnografia de Viseu.

Por se limitar somente a 2 das 35 freguesias deste concelho, e portanto um subsídio para o levantamento arqueológico deste, apenas se fará a descrição dos monumentos e dos materiais encontrados, abstendo-nos de conclusões.

I – Freguesia de S. João de Lourosa

a) Quinta do Giestal (Oliveira de Barreiros)
7º 55' 26" W, 40º 35' 57" N, 420 m (1)

1. Sepultura antropomórfica (I). Est. 2-I. O lado E encontra-se ligeiramente fragmentado. (2)

Dimensões: (3)
Comprimento = 1,85; largura na cabeça = 0,16, nos ombros = 0,48, nos pés = 0,20; profundidade na cabeça = 0,25, nos ombros = 0,25, nos pés = 0,23/0,19 (4) .

2. Sepultura antropomórfica (II). Est. 2-II. A cerca de 20 m a E. da anterior. A cabeça não é muito perceptível.

Dimensões:
Comprimento = 1,81; largura na cabeça = 0,23, nos ombros = 0,45, nos pés = 0,19; profundidade na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,24, nos pés = 0,22.

3. Sepultura antropomórfica (III). Est. 2-III. A cerca de 20 m a NE. da 1.ª das sepulturas deste grupo. Apresenta os dois lados um pouco fragmentados na parte média. (5)

Dimensões:
Comprimento = 1,76; largura na cabeça = 0,15, nos ombros = 0,40, nos pés = 0,21; profundidade na cabeça = 0,27, nos ombros = 0,28, nos pés = 0,24/0,30.

4. Mó manual romana (I). Est. 3-I. Encontrada nos limites da quinta, desconhece-se a sua proveniência exacta. Dormente. Superfície de moagem ligeiramente convexa (inclinação = 8º) e com poucos indícios de utilização. Lados mal aparelhados. Tipo D1 (6).

Dimensões:
Diâmetro = 45 cm; altura = 16 cm; profundidade do buraco central = 5,5 cm.  

5. Mó manual romana (II). Est. 3-II. Idem. Dormente. Apresenta duas superfícies de moagem, sendo uma delas perfeitamente horizontal (inclinação = 0º) e bastante gasta (1).A outra das superfícies (2) é ligeiramente convexa (inclinação = 5º), não mostrando indícios de utilização. Lados mal aparelhados e lascados em dois sítios. Face 1, tipo D1; face 2, tipo D1.

Dimensões:
Diâmetro = 44 cm; altura = 18,5 cm; profundidade do buraco central, lado 1 = 6,5 cm, lado 2 = 1,5 cm.

6. Fragmento de coluna romana (?). Idem. Lascada num dos lados.

Dimensões:
Diâmetro = 41 cm; altura = 27-30 cm.

7. Fragmentos de imbrices. Est. 4. Encontrados por ocasião de surriba efectuada no último Outono, no seguimento de outros achados idênticos. Pasta avermelhada com esparsas inclusões de mica.

b) Cruzeiro (Oliveira de Barreiros)
7º 55' 13" W, 40º 35’ 55", 400 m

8. Sepultura antropomórfica (I). Est. 5-I. A cerca de 250 m a E. do núcleo anterior. Junto ao caminho para S. João de Lourosa. Fragmentada a todo o lado S.

Dimensões:
Comprimento = 1,74; largura na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,45, nos pés = 0,24; profundidade na cabeça = 0,05/0,08, nos ombros = 0,05/0,12, nos pés = 0,14/0,20.

9. Começo de sepultura (?). Est. 5-II. A 2 m da sepultura precedente, está escavada uma pequena cavidade que poderia ser a cabeça ou os pés de uma sepultura.

Dimensões:
Comprimento = 0,40; largura média = 0,15; profundidade média = 0,12/0,08.

10. Sepultura antropomórfica (III). Est. 5-III. A cerca de 50 m a S. das anteriores, em vinha de Carlos Moreira, onde são abundantes os achados cerâmicos.Com cabeça mal delimitada, a sepultura, fragmentada do lado S., apresenta um sulco central a todo o seu comprimento. Fractura natural na sua parte média.

Dimensões:
Comprimento = 1,97; largura na cabeça = 0,28, nos ombros = 0,36, nos pés = 0,24; profundidade na cabeça = 0,03/0,04, nos ombros = 0,05/0,09, nos pés = 0,06.

11. Sepultura antropomórfica (IV). Est. 5-IV. A cerca de 0,5 m da anterior, encontra-se reduzida a cerca de metade do seu comprimento.

Dimensões:
Comprimento = 0,78; largura na cabeça = 0,31, nos ombros = 0,45; profundidade na cabeça = 0,32, nos ombros = 0,31.

c) Prepita (Oliveira de Barreiros)
7º 55' 38" W, 40º 35' 41" N, 410 m

12. Sepultura antropomórfica (I). Est. 6-I. Em vinha de Armando Ferreira. Fragmentada nos pés e junto aos ombros. Com cabeça bem delimitada apresenta o fundo côncavo.

Dimensões:
Comprimento = 1,97; largura na cabeça = 0,37, nos ombros = 0,45, nos pés = 0,25; profundidade na cabeça = 0,18, nos ombros = 0,11/0,29, nos pés = 0,16/0,29.

13. Sepultura antropomórfica (II). Est. 6-II. A cerca de 50 m a W. da anterior, está em bom estado de conservação. Cabeça de forma quadrangular, pés arredondados e fundo liso.

Dimensões:
Comprimento = 1,88; largura na cabeça = 0,30, nos ombros = 0,46, nos pés = 0,20; profundidade na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,19/0,24, nos pés = 0,23/0,25.

14. Sepultura antropomórfica (III). Est. 6-III. Na base de um aglomerado granítico em plano ligeiramente inclinado, encontra-se a cerca de 20 m a NW. da precedente. A parede N. da sepultura é curva e junto aos pés está fragmentada.

Dimensões:
Comprimento = 1,83; largura na cabeça = 0,28, nos ombros = 0,42, nos pés = 0,28; profundidade na cabeça = 0,12/0,10, nos ombros = 0,15/0,10, nos pés = 0,19/0,12.

d) Selão (Teivas)
7º 55' 00", 40º 36’ 52" N, 425 m

15. Sepultura antropomórfica. Est. 7-I. Junto a terra de cultivo, pertence a José Mesquita. Apresenta ligeiras fracturas na parte média do lado W. e junto ao ombro E.

Dimensões:
Comprimento = 1,81; largura na cabeça = 0,24, nos ombros = 0,51, nos pés = 0,24; profundidade na cabeça = 0,15, nos ombros = 0,19/0,15, nos pés = 0,21.

e) Lameiro (S. João de Lourosa)
7º 54' 12" W, 40º 36' 37" N, 430 m

16. Sepultura antropomórfica. Est. 7-II. Em laranjal dos herdeiros de Augusto Sacadura. Implantada em penedo junto a casa de arrumações. Foi recentemente fracturada no fundo por ocasião da abertura de um rego. No entanto, ainda se notam perfeitamente os seus limites. Fractura natural na sua parte média. Na sua proximidade há 4 pequenas cavidades circulares. Bastante inclinada. (7)

Dimensões:
Comprimento = 1,86; largura na cabeça = 0,28, nos ombros = 0,41, nos pés = 0,24; profundidade na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,24/0,18, nos pés = 0,15/0,18.
Diâmetro das cavidades: A = 0,09, B = 0,17, C = 0,14, D = 0,07; profundidade: A = 0,05, B = 0,10, C = 0,09, D = 0,02.

f) Labadoiro (Pias – S. João de Lourosa)
7º 53' 58" W, 40 36' 27" N, 390 m

17. Lagareta. Est. 7-III. Em matagal de Carlos Sacadura, em bloco granítico quadrangular que se ergue a cerca de 1 m do solo, junto ao caminho para a Torre. Apresenta apenas fosso e bica. Inclinação = 9º.

Dimensões:
Comprimento = 2,11; largura na parte superior = 0,42, na parte inferior = 0,29; profundidade na parte superior = 0,04 , na parte inferior = 0,40. 

g) Quinta das Rolhas ou da Capela (Lourosa de Baixo)
7º 53’ 33" W, 40º 36’ 32" N, 400 m

18. Sepultura antropomórfica (I). Est. 8-I. Em propriedade de Serafim Francisco de Sousa. Fracturada ao fundo, a restante parte encontra-se em bom estado de conservação. Na parte superior apresenta rebordo utilizado para a colocação de tampa (?). Bastante inclinada.

Dimensões:
Comprimento do lado esquerdo = 1,48 (8), do lado direito = 1,39; largura na cabeça = 0,16, nos ombros = 0,39, nos pés = 0,27; profundidade na cabeça = 0,35, nos ombros = 0,55, nos pés = 0,27/0,30.

19. Sepultura antropomórfica (II). Est. 8-II. A cerca de 40 m a SW. da anterior, junto ao caminho para Lourosa de Baixo. Na parte média apresenta fractura pouco pronunciada.

Dimensões:
Comprimento = 1,84; largura na cabeça = 0,24, nos ombros = 0,50, nos pés = 0,28; profundidade na cabeça = 0,22, nos ombros = 0,26/0,19, nos pés = 0,12/0,23.

20. Sepultura antropomórfica (III). Est. 8-III. Em propriedade de Carmindo Teixeira, a cerca de 50 m a SE. da sepultura I e a 50 m a E. da sepultura II. A cabeça encontra-se mal delineada. Aproveitada como lagareta. Tem bica para o lado esquerdo, não se encontrando vestígios de pio. Inclinação = 4,5º.

Dimensões:
Comprimento = 1,84; largura na cabeça = 0,39, nos ombros = 0,51, nos pés = 0,26; profundidade na cabeça = 0,30, nos ombros = 0, 29/0,39, nos pés = 0,24.

h) Quinta dos Frades (Coimbrões)

21. Sarcófago monolítico. Est. 9-III. Encontrado na capela que está nos limites da quinta que pertence aos herdeiros do Visconde de Rio Torto. Hoje encontra-se junto à habitação dos caseiros. As duas paredes laterais ligeiramente fracturadas. Não existe parede nos pés.

Dimensões:
Comprimento = 1,80; largura na cabeça = 0,32, nos ombros = 0,47, nos pés = 0,31; profundidade na cabeça = 0,26, nos ombros = 0,35/0,20, nos pés = 0,25/0,07; espessura média da parede = 0,04.

i) Coimbrões

22. Coluna (?). Miliário (?). Actualmente encontra-se junto ao caminho que vem de Lourosa de Baixo. Esteve na parede da Casa de Carlos Oliveira de onde saiu por motivo de obras. Apresenta base quadrangular (?).

Dimensões:
Altura = 0,74-0,77; diâmetro = 0,39-0,42; perímetro = 1,37-1,42; perímetro da base = 1,50.

II – Freguesia de Silgueiros

j) Falorca (Loureiro de Cima)
7º 56' 04" W, 40º 33' 37" N, 330 m

23. Sepultura antropomórfica (I). Est. 9-I. Ao Sizeiro, em propriedade de Santos Lima. Junto aos pés está ligeiramente fracturada. A cabeça encontra-se num plano mais elevado e bem delimitado.

Dimensões:
Comprimento = 1,82; largura na cabeça = 0,19, nos ombros = 0,43, nos pés = 0,23; profundidade na cabeça = 0,28, nos ombros = 0,30/0,36, nos pés = 0,06/0,03.

24. Sepultura antropomórfica (II). Est. 9-II. No mesmo rochedo, a cerca de 0,70 m da anterior. Está bem conservada e apresenta igualmente almofada na cabeça. O rochedo encontra-se fracturado longitudinalmente entre as duas sepulturas.

Dimensões:
Comprimento = 1,70; largura na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,50, nos pés = 0,22; profundidade na cabeça = 0,12, nos ombros = 0,28/0,32, nos pés = 0,25/0,37.

k) Loureiro de Cima
7º 57' 40" 'V, 40 33' 25" N, 360 m

25. Lagareta. Est. 10-I. Ao lado da casa do pároco da freguesia, em vinha de Frederico Cruz. O fosso está partido na parte superior e o pio no lado S. No lado E. junto ao fosso poderia ter assentado algo pois a pedra está aí mais afeiçoada, bem como entre o fundo do fosso e a area. Ao lado W. do fosso encontra-se uma estranha cavidade. Area convexa que comunica directamente com o pio. Declive = 4,5º.

Dimensões:
FOSSO: comprimento = 2,14/1,84; largura na parte superior = 0,32, na inferior = 0,28; profundidade na parte superior 0,04, na inferior = 0,32. PIO: comprimento = 0,85; largura = 0,99; profundidade = 0,17-0,72. Diâmetro da area = 0,86.

26. Coluna granítica. Est. 10-II. Junto à lagareta encontra-se uma coluna granítica cilíndrica com entalhe circular na parte superior. Desconhece-se a sua proveniência e a sua utilidade.

Dimensões:
Altura = 0,58-0,63; diâmetro na parte superior = 0,45; diâmetro do entalhe = 0,20; profundidade do entalhe = 0,01.

l) Campas (Passos de Silgueiros)
7º 58' 31" W, 40º 35' 04", 375 m

27. Começo de sepultura (I). Est. 11-I. Fragmentada no fundo.

Dimensões:
Comprimento = 1,50; largura na parte superior = 0,37, na inferior = 0,39; profundidade na parte superior = 0,12/0,02 , na inferior = 0,02/0,06. 

28. Sepultura antropomórfica (II). Est. 11-II. A cerca de 1 m a N da anterior e escavada no mesmo rochedo. A cabeça está mal delimitada. Fundo arredondado.

Dimensões:
Comprimento = 1,62; largura na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,50, nos pés = 0,34; profundidade na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,25/0,20, nos pés = 0,15.

m) Moitedo (Passos de Silgueiros)
7º 56’ 51" W, 40º 34’ 47" N, 325 m

29. Sepultura antropomórfica. Est. 12-I. Em propriedade de Jaime Madeira. Próxima de terras de cultivo. Está fracturada no fundo.

Dimensões:
Comprimento = 1,85 m; largura na cabeça = 0,23, nos ombros = 0,48, nos pés = 0,25; profundidade na cabeça = 0,20, nos ombros = 0,27/0,26, nos pés = 0,12/0,13.

30. Lagareta. Est. 12-II. No meio de mimosas a cerca de 50 m a E. da sepultura anterior, em propriedade de Armando de Melo. O fosso apresenta fractura na parte superior. Não tem pio, havendo notícia de ter sido destruída há cerca de um século. A area comunica directamente para o fosso. A sul da area e em plano inferior encontra-se um pequeno entalhe circular.

Dimensões:
FOSSO: comprimento = 2,30; largura na parte superior = 0,35, na inferior = 0,34; profundidade na parte superior = 0,19 na inferior = 0,04; inclinação = 10º. Diâmetro da area = 0,88. Diâmetro do entalhe = 0,30.

n) Barrabás (Passos de Silgueiros)
7º 56' 44" W, 40º 34' 48" N, 350 m

31. Lagareta. Est. 11-III. Em encosta de extenso penedio, a cerca de 50 m de uma vinha, actual pinhal de Henrique Nunes. O fosso, cuja parede N. está partida, comunica com o pio, quadrangular e de fundo liso, por um canal com a forma aproximada de um ângulo recto. A area, mal definida, comunica directamente com o pio. Fracturada na parte superior.

Dimensões:
FOSSO: comprimento = 2,00; largura na parte superior = 0,36, na inferior = 0,30; profundidade na parte superior = 0,26, na inferior = 0,16; inclinação = 6,5º. PIO: largura = 0,68; profundidade = 0,12-0,54.

o) Pinouca
7º 54' 09" W, 40º 35' 24" N, 315 m

32. Lagareta. Est. 12-III. Em mata propriedade de Armando Ferreira. Em estado de deterioração, o fosso apresenta fractura na sua parte média. Não tem area.

Dimensões:
FOSSO: comprimento = 2,01; largura na parte superior = 0,34, na inferior = 0,15; profundidade na parte superior = 0,16, na inferior = 0,11; inclinação = 8º.PIO: largura = 1,12; comprimento = 0,75; profundidade = 0,38-0,76.

 

(1) As coordenadas e as altitudes aproximadas são as dadas na Carta Corográfica de Portugal na Escala de 1/50 000, Instituto Geográfico e Cadastral, fs. 17-A e 17-C, s.l., 1965-s.d.

(2) Sempre que se não diga nada em contrário, as sepulturas e as lagaretas encontram-se em afloramentos graníticos ao nível da superfície.

(3) Salvo outra indicação, em metros.

(4) Significa que tem 0,23 de altura no lado esquerdo de quem olha para a sepultura e 0,19 do lado direito.

(5) A cerca de 50 m a E. deste núcleo foi há anos destruída uma outra sepultura de que não restam hoje nenhuns vestígios.

(6) Classificação proposta em NELSON CORREIA BORGES, "Mós Manuais de Conímbriga", Conimbriga, XVII, Coimbra, 1978, pp. 113-132.

(7) A cerca de 200 m para S., na Regada, propriedade de José Pereira de Sousa, existiu outra sepultura, destruída há poucos anos por ocasião de surriba.

(8) Esta medida deverá corresponder mais ou menos ao comprimento inicial da sepultura.

 

Referência bibliográfica:

António João Cruz, Alberto Metelo Coimbra, Lourenço José Marques Lopes, Subsídios para o Levantamento Arqueológico do Concelho de Viseu. Freguesias de S. João de Lourosa e Silgueiros, relatório dactilografado, Viseu, Centro Juvenil de Arqueologia e Etnografia de Viseu, 1980.

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